"O estresse no trabalho representa importante fator de risco psicossocial associado à morbidade e mortalidade cardiovascular. A elevação da pressão arterial tem sido apontada como um possível mecanismo pelo qual o estresse no trabalho aumenta o risco cardiovascular. Mas existem grandes inconsistências na literatura a respeito dessa relação, determinadas, em grande parte, por questões metodológicas." A afirmação é da aluna do doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Leidjaira Juvanhol Lopes. Sua tese, desenvolvida sob orientação da pesquisadora Rosane Härter Griep, adotou diferentes estratégias analíticas que forneceram evidências de que a relação entre o estresse no trabalho e a pressão arterial varia ao longo da distribuição de pressão arterial, sendo mais evidente entre os participantes com mais de 50 anos, e não sendo observadas diferenças segundo sexo. Ela explica: "O estresse no trabalho vai aumentar a pressão arterial dependendo dos níveis de pressão arterial do indivíduo, ou seja, de acordo com o valor da pressão arterial, o estresse no trabalho vai agir de forma mais ou menos acentuada". Segundo Leidjaira, esse achado tem importantes implicações, pois, como a quase totalidade dos estudos foca em partes específicas da distribuição de pressão arterial, as conclusões em relação a seus principais determinantes, dentre os quais o estresse no trabalho, são baseadas em efeitos sobre a média ou no extremo populacional, esse último representado pelos casos de hipertensão arterial. "Conclui-se, no estudo de problemas complexos de pesquisa, como o abordado nessa tese, que a combinação de diferentes estratégias analíticas pode contribuir de forma significativa para o preenchimento das lacunas existentes." A tese em foco é parte do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), investigação multicêntrica sobre as doenças cardiovasculares e o diabetes que acompanham servidores públicos, de ambos os sexos, entre 35-74 anos, de seis instituições de ensino superior e pesquisa do país: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de São Paulo (USP) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Nessa tese, foram utilizados dados da linha de base do Elsa-Brasil, referentes aos participantes não aposentados, para abordar a relação entre o estresse no trabalho e a pressão arterial. Entre os dois artigos produzidos com base no estudo, o primeiro analisou a relação entre o estresse no trabalho e a distribuição de pressão arterial por meio de uma combinação de diferentes técnicas exploratórias. Adicionalmente, foram apresentados aspectos sobre a operacionalização das variáveis de estresse no trabalho e relacionadas à pressão arterial que influenciam no estudo de suas inter-relações. Conforme evidenciaram os resultados, a relação entre o estresse no trabalho e a pressão arterial varia ao longo da distribuição de pressão arterial. A relação investigada foi mais evidente entre os participantes com mais de 50 anos, mas não foram observadas diferenças segundo sexo. Também foi verificado um incremento nas diferenças entre as médias pressóricas dos grupos de baixo e alto estresse no trabalho, após excluir das análises os participantes com maior probabilidade de erros de classificação nas variáveis de estudo. O segundo artigo, por sua vez, elucidou Leidjaira, teve o objetivo de analisar a associação entre o estresse no trabalho e a pressão arterial usando análise de regressão quantílica, além de investigar se as dimensões de estresse no trabalho – demandas psicológicas, uso de habilidades e autonomia para decisão – associam-se de forma diferenciada com a pressão arterial. Segundo ela, os resultados indicaram que os participantes do Elsa-Fiocruz são os que apresentam os maiores níveis de uso de habilidades, que se referem às oportunidades para ser criativo, usar competências intelectuais e aprender coisas novas no trabalho, bem como possuírem os níveis mais altos de autonomia para tomar decisões sobre a forma de realizar o próprio trabalho. A respeito da relação dessas dimensões com a pressão arterial, acrescentou a aluna, foi identificado que somente a autonomia para decisão está associada à pressão arterial, sendo essa associação significativa apenas na parte central da distribuição de pressão arterial e entre os não usuários de medicamentos anti-hipertensivos. Também não foram observadas diferenças segundo sexo. Leidjaira Juvanhol Lopes é graduada em Enfermagem, com mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Ela colabora nas análises do banco de dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) no Centro de Pesquisa do Rio de Janeiro.
Fonte: Ministério da Saúde